quarta-feira, 18 de junho de 2008

Teoria da Catástrofe

Parece-me um exercício básico de higiéne intelectual não ter em consideração as opiniões gerais dos teóricos da catástrofe, sejam desde o ecologismo-apocalíptico, até à loucura nuclear passando pelo lugar-comum que os EUA ocupam nos dias de hoje, a verdade é que nunca me pareceu sinónimo de honestidade intelectual arvorar bandeiras baseando-se num catástrofismo eminente. Não tanto pelo conteúdo profundamente maníqueista da sua cartilha mas antes pelo facto de a própria definição de catástrofe envolver um corte radical e irrevógavel com toda a realidade que conhecemos, por conseguinte movimentos daí derivados não têm mais conteúdo que utopias futuristas que não têm lugar no espaço da política verdadeira, são literalmente fracturantes.
Tolero até a sua existência, não tanto por apetência pessoal mais por conformação social e democráctica, mas como muitos sociólogos vêm dizendo estas serão o advento das formas de practicar política no século XXI. Os Partidos, sempre inflexíveis na sua forma e posição, estão em detrimento paralelamente aos movimentos cívico-sociais que vêm a ocupar lugar na praça pública, clamando temas tão fracturantes, e por sinal tão fúteis, abundando como cogumelos e escolhendo as suas bandeiras numa prespectiva quantitativa de décibeis: Quanto mais barulho mais política feita.
EM termos de relevância histórica estes mesmos movimentos, que segundo os títulos «Fazem tremer o Governo», são insignificantes. ONde não foi já utilizada a mesma fúria contestátaria? o mesmo informalismo? os mesmos slogans? São numerosos os exemplos e todos eles esclarecedores, apontando especialmente para 1789. A única particulariedade que estes movimentos vêm a adquirir nos dias de hoje será o seu carácter temporal e sazonal, o « homem-massa» dos dias de hoje julga-se tão detentor dos seus direitos e sente tão intensamente a sua pessoa como reduto dos Direitos Fundamentais que arroga-se ao direito de em tudo participar impulsivamente e egoisticamente, sem pretensões de construção virada para o futuro e apenas uma satisfação ins´lubre do presente.
Em suma, a adopção deste tipo específico de contestação leva invariavelmente à falência da forma tradicional de organização e acção dos Partidos bem como as próprias formas tradicionais de se fazer política. Que futuro?

1 comentário:

CESAR disse...

Fantástica! Que análise fantástica.
Muitos parabéns!

Concordo com o que disseste, excepto na referência à revolução jacobina.
Parece-me excessivo considerar o paradigma política e social daquela altura com o actual. Mas percebo onde queres chegar.

O texto é cativante e a sua estrutura é muito boa, não tem devaneios desnecessários e vai à raiz do teu pensamento. Formidável.

Gostei também das referências a Al Gore e a MArx, principalmente.

Obrigado pela passagem pelo meu blog e parabéns pelo teu.

SE me permites a indiscrição, qual é a tua área? Direito?

Abraços.
CESAR